O fim do Padrão-ouro

E seus efeitos na inflação

ECONOMIA

Balança pesando ouro
Balança pesando ouro

Entendemos no post Inflação: o que é e como é medida sobre o que é a inflação e quais são os seus causadores. Nele, vimos que a Lei da Oferta e Demanda de Adam Smith diz que o preço de um produto se dá pelo equilíbrio da quantidade ofertada e da quantidade demandada. No mesmo post, observamos diferentes agentes impactando no preço de um produto, como sua variação de oferta - sendo produzido mais ou menos - guerras, leis governamentais e aumento da emissão de papel moeda.

Todos esses fatores podem influenciar o preço de um produto para cima ou para baixo. Porém, porque ele sempre ocorre para cima? Apesar de vivermos em um período com guerra entre Rússia e Ucrânia - sendo este um post escrito em 2025 - a guerra nem sempre existiu. Antes dela, contávamos com a inflação. Sabemos que variações climáticas podem causar secas ou chuvas catastróficas, destruindo colheitas e diminuindo a produção, porém, observamos com frequência que também ocorrem variações favoráveis e colheitas recordes - o que deveria indicar uma diminuição de preços. Leis são criadas pelo governo, boas e ruins, e podem impactar a economia para ambas as direções.

Porque todo ano o preço dos produtos aumenta, mas nunca diminui? Estamos em um mundo cada vez mais tecnológico e inovador, ano após ano novas tecnologias surgem, novos processos e técnicas. Com mais máquinas em uma mesma área de cultivo se consegue produzir maiores quantidades de alimento, novas empresas entram no mercado oferecendo maiores volumes de produtos, empreendedores abrem lojas e escritórios de serviços, e todas essas forças impulsionam um aumento de oferta. Deveríamos esperar uma diminuição de preços.

Aqui, precisamos entender um pouco sobre como governos e economias atuais funcionam.

O fim do Padrão-ouro

E seus efeitos na Inflação

Impacto da emissão de novas moedas

Suponha que em um país sejam vendidos 1 milhão de veículos por ano. Vamos imaginar que de repende o governo gere uma grande quantidade de moeda, distribuídas de forma igualitária entre todos os habitantes do país, fazendo com que o salário de todos se multiplique 10 vezes. Agora são todos 10 vezes mais ricos, e uma maior parte da população poderá comprar um carro.

Nesse momento precisamos voltar a Lei da Oferta e da Demanda: com uma maior demanda pelos veículos e a mesma oferta, pode-se imaginar que seu preço subirá, em uma proporção mais ou menos similar ao aumento de 10 vezes ocorrido pelo aumento do salário - a proporção não seria exatamente essa, mas serve como exemplo próximo. Você pode imaginar que com mais pessoas demandando carros, as fábricas iriam produzir um maior volume e, de certa forma, está correto. Porém, para produzir mais carros, necessita-se de mais fábricas, mais empregados especializados, maior volume de insumos - alguns desses não são de rápida reposição: não conseguimos aumentar a produção de aço em 10 vezes de uma forma instantânea, ou o aumento da mão de obra especializada. A Lei da Oferta e da Demanda ocorreria em múltiplos setores da sociedade, pois neste exemplo estamos focando somente nas vendas de carros, porém, com mais dinheiro, as pessoas se interessariam por diferentes produtos.

Pode-se perceber que essa situação gerará um aumento generalizado de preços, o que chamamos de Inflação. Percebe-se também que somente o preço das coisas foi elevado, mas não a riqueza total sociedade.

Para um exemplo mais detalhado dessa situação, sugerimos a leitura da Alegoria da Ilha.

Porém, existe algo mais grave do que o aumento generalizado de preços: a distribuição das novas moedas ou cédulas não se dá de forma igualitária, ou mesmo proporcional. Quando os governos imprimem mais moedas, geralmente utilizam-se desse dinheiro para pagar suas contas, ou mesmo liberar crédito para empresas parceiras, sendo esses os principais beneficiários desse programa. Enquanto isso, a população sofre com um aumento de preços, porém, sem receber moedas a mais.

Esse fenômeno se chama Efeito Cantillon, e foi descoberto pelo economista francês Richard Cantillon no século XVIII. Ele indica que com a geração de mais dinheiro, os maiores beneficiários são as pessoas que primeiro recebem essas moedas, ou seja, grandes empresas e bancários mais próximos do Banco Central. Eles conseguem gastar o dinheiro antes que o aumento de preços seja percebido, visto ser a primeira circulação da moeda. Com base no aumento da circulação desse novo dinheiro, o comércio e salários tendem-se a ajustar para os valores mais elevados, porém, por um momento, os primeiros a gastar ficaram mais ricos.

O Efeito Cantillon nos mostra que com a criação de novo dinheiro, os beneficiários são as pessoas e empresas mais próximas do Banco Central; enquanto isso, as mais distantes sofrem com a Inflação, aumento de preços e uma "redistribuição da pobreza".

Com o fim do padrão-ouro, governos de todo o mundo passaram a ter um grande poder sobre a moeda e com isso, tornaram-se mais inconsequentes com seus gastos, visto que a qualquer aperto, podem imprimir novas cédulas e pagarem suas dívidas. Essa consequência tende a ser tão grande que inibe as evoluções tecnológicas que puxam o preço dos produtos para baixo. Ano após ano, observa-se o aumento da relação dívida-PIB dos países e a solução de muitas nações para pagar essa dívida é com a impressão de papel moeda, as custas de uma população mais pobre e com menos recursos para manter seu estilo de vida.

A solução ideal seria um maior controle de gastos dos governos, com políticas econômicas eficientes, mas isso não vem ocorrendo na maioria dos países ao redor do globo. Dessa forma, como podemos nos proteger desse fenômeno? Entraremos em detalhe em um próximo post.

Pátio com carros à venda
Pátio com carros à venda

Vivemos em um mundo em que os governos operam em crescentes dívidas e déficits contábeis, enquanto utilizam um modelo econômico baseado em moedas sem lastro. Por muitos séculos as sociedades humanas utilizavam moedas de ouro, que tinham um valor intrínseco em si. Uma moeda de 30 gramas valia seu próprio peso convertido em ouro, pois poderia ser derretida para tal; a moeda era baseada em uma riqueza real, o que garantia o seu poder de troca. Porém, o ouro (ou prata) era pesado para se carregar em grandes volumes, o que causou a invenção do papel moeda, as chamadas notas - surgidas no século XVII na Europa e no século XI na China. Durante um período antigo, cada banco poderia emitir a sua própria nota para uso de seus clientes, sendo obrigado a trocar essa cédula por um peso em ouro correspondente quando solicitado, uma regra justa para as pessoas usuárias do sistema.

Com o advento dos grandes estados e nações modernas, a emissão de notas ficou possibilitada apenas pelos Bancos Centrais, controlados pelos governos de cada país, surgindo o termo "moeda oficial". Mas como cada país poderia negociar entre si, garantindo uma relação econômica justa? Qual a correlação do valor das notas emitidas entre diferentes países? Por alguns anos utilizou-se o padrão libra-ouro (1870-1914) e o padrão dólar-ouro (1944-1971), que estipulavam basicamente o ouro como lastro oficial utilizado no mundo, sendo o dólar (ou libra) utilizado para negociações internacionais.

Porém, em 1971 os Estados Unidos aboliram o padrão dólar-ouro, eliminando a conversão de valor entre o metal precioso e o seu papel moeda, iniciando o chamado Câmbio Flutuante. Nesse modelo, o valor das moedas varia conforme a quantidade disponível em circulação: se temos um aumento de ienes japoneses sendo negociados frente ao dólar americano, a tendência é que a primeira moeda se desvalorize frente a segunda. Dessa forma, governos de diferentes países podem gerar maiores quantidades de suas próprias moedas e ainda assim realizar comércio internacional, visto que o câmbio flutuará para uma conversão entre seus valores. A maioria das negociações internacionais são feitas em dólares americanos, mas outras moedas são bastante utilizadas como o euro e o iene.

Porém, esse modelo costuma ser catastrófico para as pessoas e cidadãos. Os governos agora têm a possibilidade de gerar mais papel moeda - imprimindo novas células e as colocando em circulação. Mas porque isso é ruim?

O fim do Padrão-ouro

O Efeito Cantillon